Diferente do vento que sentimos na Terra, o vento solar se trata de um fluxo de partículas carregadas que são ejetadas pelo Sol. Ele é crucial para o clima espacial, sua interação com o campo magnético da Terra pode causar bonitas auroras ou até tempestades magnéticas e afetar tecnologias e missões espaciais.
por Laura Vincoleto Zanfolim
O vento solar é um fluxo contínuo de partículas eletricamente carregadas emitidas pelo Sol. Essa liberação de partículas ocorre devido a uma enorme diferença de pressão entre o espaço interplanetário e a coroa solar, a parte mais externa da atmosfera do Sol. [1] Assim como a composição do Sol, o vento solar encontra-se no estado de plasma, o 4° estado de matéria que constitui gases altamente ionizados. [2]
A densidade e a velocidade do vento solar podem variar dependendo da região solar de origem. O vento solar de baixa velocidade é liberado pelas regiões próximas ao plano equatorial, onde a Terra e os outros planetas orbitam, tendo cerca de 400 quilômetros por segundo. Já o vento solar de alta velocidade costuma vir dos buracos coronais, variando de 500 a 800 quilômetros por segundo. Os polos norte e sul do Sol apresentam grandes e persistentes buracos coronais, por isso as altas latitudes costumam liberar vento solar rápido [3].
Os vídeos abaixo mostram representações do fluxo das partículas do vento solar lento e rápido, respectivamente, em direção a Terra e a magnetosfera, região formada pelo campo magnético terrestre. A magnetosfera exerce uma importante proteção, como um escudo, defletindo as partículas do vento solar. Repare como a velocidade do vento solar a afeta: Quando em alta velocidade, esse contínuo fluxo de partículas exerce maior pressão na estrutura da magnetosfera, achatando ainda mais a parte diurna - ou seja, diminuindo a região de proteção do campo magnético e aproximando-o da Terra.
É importante ressaltar que a intensidade do vento solar também acompanha o ciclo de 11 anos da atividade solar, mais comentado no nosso post: Ciclo Solar
O vento solar carrega consigo o campo magnético do Sol. Isso acontece porque o vento solar é um plasma de alta condutividade no qual as linhas de campo magnético ficam “congeladas”, ao invés de se difundirem ao plasma. Dessa forma, o campo magnético interplanetário (ou Interplanetary Magnetic Field - IMF, do inglês) nada mais é do que uma extensão do campo magnético solar [1].
O IMF possui um formato de uma espiral, conhecida como espiral de Parker, em homenagem a Eugene Parker, devido à rotação do Sol e ao “congelamento” das linhas de campo ao plasma do vento solar. [1] O vídeo abaixo apresenta uma representação dessa espiral.
As partículas e o campo magnético que fluem com o vento solar podem criar o que se conhece como ondas de plasma. Essas ondas ocorrem quando campos elétricos e magnéticos oscilantes atravessam aglomerados de íons e elétrons, empurrando alguns deles para velocidades aceleradas. Essas ondas de plasma criam um ritmo que nós podemos “ouvir”. A sonda Parker Solar Probe da NASA é uma das espaçonaves capazes de “ouvir” e registrar quando ondas e partículas interagem umas com as outras no vento solar. [5]
Como mostrado nos vídeos, o vento solar pode diminuir a região de proteção da magnetosfera, isso é relevante por exemplo para tecnologias, como satélites e missões espaciais. Já aqui na Terra, as partículas do vento solar em contato com a atmosfera da Terra causam bonitas auroras, principalmente nos polos onde há “buracos” no campo magnético, conhecidos como cúspides. Além disso, o vento solar também pode causar tempestades magnéticas, como a de maio de 2024, uma das maiores já registradas, que tratamos no post: A tempestade solar de maio de 2024.
Se tiver interesse em saber mais, cheque nossa aba de “Leituras sugeridas” e dê uma olhada nos posts relacionados:
[1] COSTA Jr., E., SIMÕES Jr., F.J.R., CARDOSO, F.R., ALVES, M.V. O vento solar e a atividade geomagnética. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 33, n. 4, 4301, 2011.
[2] Bittencourt, J. A. Fundamentals of Plasma Physics. Third Edition, Springer, 2004. Disponível em: https://link.springer.com/book/10.1007/978-1-4757-4030-1.
[3] NOAA. Solar Wind. Space Weather Prediction Center, s.d. Disponível em: https://www.swpc.noaa.gov/phenomena/solar-wind#:~:text=Different%20regions%20on%20the%20Sun,filled%20with%20fast%20solar%20wind. Acesso em: 8 maio 2025.
[4] NASA SCIENTIFIC VISUALIZATION STUDIO. Fast and Slow Solar Wind [visualização científica]. Greenbelt, MD: NASA Goddard Space Flight Center Conceptual Image Lab, 28 set. 2021. Disponível em: https://svs.gsfc.nasa.gov/20347. Acesso em: 8 jun. 2025.
[5] NASA. What is the solar wind? Disponível em: https://science.nasa.gov/sun/what-is-the-solar-wind/. Acesso em: 8 maio 2025.