Em maio de 2024 o Sol apresentou atividade intensa com consequências diretas para a Terra. Uma região ativa particularmente energética, catalogada como NOAA AR 13664, foi responsável por uma série de fenômenos espaciais significativos que chamaram a atenção da comunidade científica internacional.
por Marcos Vinicius Dias Silveira
A região ativa NOAA AR 13664 desenvolveu-se rapidamente no disco solar no hemisfério visível do Sol em apenas nove dias. Esse crescimento acelerado desencadeou doze explosões solares de classe X (classificação mais intensa), incluindo um evento extremo classificado como X8.7 em 14 de maio - a maior erupção registrada no atual ciclo solar 25. Essas explosões jogam para o espaço partículas carregadas e campos magnéticos que podem atingir a Terra.
As explosões solares produziram múltiplas ejeções de massa coronal (CMEs) dirigidas à Terra. Pelo menos quatro dessas estruturas interagiram no espaço interplanetário, formando uma estrutura complexa que atingiu nosso planeta em 10 de maio às 17:05 UTC. A chegada dessas CMEs comprimiu a magnetosfera terrestre a apenas 5,04 vezes o raio da Terra (Rₑ), um valor excepcionalmente baixo que indica a intensidade do impacto.
A tempestade geomagnética resultante atingiu seu pico em 11 de maio às 02:00 UTC, com um índice Dst provisório de -406 nT de acordo com o World Data Center For Geomagnetism da Universidade de Kyoto no Japão. Esse valor a classifica como a sexta maior tempestade geomagnética desde o início dos registros em 1957. Os efeitos foram observados em múltiplos sistemas:
• Distúrbios ionosféricos significativos, com aumento da densidade eletrônica em baixas latitudes.
• Auroras visíveis em latitudes incomumente baixas, incluindo relatos confirmados a 23,2° de latitude magnética no hemisfério sul (Namíbia) e 24,3° no hemisfério norte (Índia)
• Variações nos raios cósmicos, com um decréscimo de Forbush de aproximadamente 15% seguido por um aumento de partículas energéticas solares (evento GLE #74)
Este evento representa um caso de estudo valioso para compreender os extremos do clima espacial. Sua intensidade comparável às grandes tempestades de 1958, 1989 e 2003 permite testar modelos teóricos em condições extremas. Particularmente notável foi a combinação de múltiplas CMEs no espaço interplanetário, um fenômeno que amplifica os efeitos na magnetosfera terrestre.
As observações coordenadas de satélites (GOES, THEMIS), redes de monitoramento terrestre e contribuições de ciência cidadã para registro de auroras demonstraram a importância de abordagens multidisciplinares no estudo do clima espacial. Os dados coletados continuarão a ser analisados para melhorar a capacidade de previsão e mitigação dos efeitos de tempestades geomagnéticas extremas na tecnologia moderna.
Com o ciclo solar 25 passando pelo seu máximo entre 2024 - 2025, eventos como este destacam a necessidade contínua de monitoramento solar avançado e desenvolvimento de protocolos de proteção para infraestruturas críticas sensíveis ao clima espacial. A tempestade de maio de 2024 serve como lembrete da complexa e dinâmica relação entre a atividade solar e o ambiente espacial terrestre.
Se tiver interesse em saber mais, cheque nossa aba de “Leituras sugeridas”.
[Muhlestein, B. (2024, 20 de junho). The Evolution and Impact of Active Region 13664 – an operational perspective. Senior Space Weather Forecaster. Disponível em: https://storymaps.arcgis.com/stories/0c501560633549b69dbd01c4c725b2b3
Johnson-Groh, M. (2024, 16 de maio). How NASA Tracked the Most Intense Solar Storm in Decades. NASA. Disponível em: https://science.nasa.gov/science-research/heliophysics/how-nasa-tracked-the-most-intense-solar-storm-in-decades/
World Data Center for Geomagnetism, Kyoto. Data Analysis Center for Geomagnetism and Space Magnetism, Graduate School of Science, Kyoto University. Disponível em: https://wdc.kugi.kyoto-u.ac.jp/
Community Coordinated Modeling Center (CCMC). NASA Goddard Space Flight Center. Disponível em: https://ccmc.gsfc.nasa.gov