Satélites de Starlink caindo?

Como as tempestades geomagnéticas podem afetar a órbita dos satélites

Posted by GEMP on August 15, 2025 · 8 mins read
Entenda como o clima espacial e as tempestades geomagnéticas podem afetar a órbita dos satélites GEMP-USP (Grupo de Estudos de Magnetosfera e Plasmas. - Projeto de Extensão

AEntre 2020 a 2024, 523 satélites de órbita baixa da Starlink reentraram na atmosfera. Esse período coincide com o aumento da atividade solar devido ao Ciclo 25. Mas como o Sol pode estar afetando esses satélites? Vamos entender mais!

por Laura Vincoleto Zanfolim

Satélites de órbita baixa - como a Starlink

Dentre as possíveis órbitas que os satélites ao redor da Terra executam, os de órbita terrestre baixa (LEO, Low-Earth Orbit em inglês) como o nome sugere, traçam trajetórias mais próximas à superfície. Satélites nessa órbita podem estar a até 2000 km ou a apenas 160 km acima da Terra, em comparação um avião voa a aproximadamente 14 km. Nessa distância, os satélites sofrem arrasto devido aos gases da atmosfera terrestre, que é decisório para a re-entrada desses satélites.

Representação da órbita LEO
Fonte: ESA.

A proximidade da LEO com a Terra a torna muito útil. É a órbita mais usada para imagens da superfície da Terra, pois permite capturar imagens com maior resolução. Uma desvantagem dessa órbita é que os satélites se movem muito rápido no céu, dificultando seu rastreamento para coberturas constantes para aplicações como comunicação. Para contornar esse problema, os satélites de comunicação em LEO frequentemente funcionam como parte de uma constelação de múltiplos satélites para fornecer cobertura constante - assim como a Starlink.

Nos últimos 5 anos, houve um aumento exponencial na quantidade de satélites em LEO. Por isso, se tornou ainda mais importante monitorar e prever as reentradas para proteção contra colisões espaciais e o impacto que os detritos podem ter na atividade dos outros satélites e até na Terra.

Tempestades geomagnéticas e a re-entrada dos satélites

Quando o ciclo solar está em seu período máximo, como agora estamos acompanhando o ciclo 25, a atividade solar fica mais intensa e, por consequência, o vento solar pode trazer mais partículas, mais energia e com maior velocidade em direção à Terra e causar grande perturbação na magnetosfera (o campo magnético terrestre). Se quiser saber mais, pode conferir nosso post Ciclo solar.

No estudo “Tracking reentries of Starlink satellites during the rising phase of solar cycle 25”, ou “Acompanhamento das reentradas dos satélites Starlink durante a fase ascendente do ciclo solar 25” em português, Denny et al., (2025)[1] comenta como essa interação do vento solar intenso com a magnetosfera pode causar um aquecimento significativo nas camadas mais altas da atmosfera, onde está a órbita LEO. Basicamente, as partículas carregadas do vento solar intensificam as correntes elétricas na atmosfera, aumentando as colisões do plasma e dos átomos, levando à uma expansão atmosférica, e como consequência a uma maior densidade em determinadas altitudes.

Essa alteração na densidade leva a um maior arrasto orbital, alterando a velocidade e a altitude dos satélites ao longo do tempo. Este efeito é ainda mais intenso para os satélites em órbitas terrestres muito baixas (VLEO, geralmente consideradas abaixo de 300 km), onde a atmosfera é mais densa. Assim, tempestades geomagnéticas podem encurtar a vida útil operacional de satélites, ou seja, eles podem reentrar antes do previsto (usualmente de 3 a 5 anos).

Como exemplo deste efeito do clima espacial, o estudo publicado por Denny et al. (2025)[1] rastreou a re-entrada de mais de 500 satélites da empresa Starlink entre os anos de 2020 e 2024, coincidindo com a fase crescente do ciclo solar 25, além da reentrada de diversos outros satélites no mesmo período. A figura abaixo mostra essas reentradas de satélites, sendo os da Starlink em laranja e os demais em azul.

Localização das re-entradas de satélites.
Fonte: Denny et al. (2025)

A pesquisa foi realizada utilizando as informações de órbita dos satélites pelos dados de “Two-Line Element (TLE)”, ou Elementos de Duas Linhas (TLE). Cada TLE consiste em duas linhas de dados, com a primeira linha contendo informações para identificação do satélite, enquanto a segunda fornece suas informações de órbita. Esses dados são muito utilizados para rastrear satélites, prever passagens e monitorar detritos espaciais. O site Space-track.org (https://www.space-track.org/auth/login) fornece os dados de TLE gratuitamente. O estudo foi realizado com base nos dados extraídos deste site e com auxílio da ferramenta Python com a biblioteca PyEphem.

Os resultados do estudo indicam que quanto maior o nível de atividade solar, mais rápido os satélites atingem a velocidade de reentrada, e os erros de previsão de reentrada tornam-se mais comuns. Desta forma, mostra-se a relevância do estudo do clima espacial para o planejamento de novas missões espaciais.

Se tiver interesse em saber mais, cheque nossa aba de “Leituras sugeridas” ou contacte-nos!

Referências

[1] OLIVEIRA, Denny M.; ZESTA, Eftyhia; GARCIA-SAGE, Katherine. Tracking reentries of Starlink satellites during the rising phase of solar cycle 25. Frontiers in Astronomy and Space Sciences, v. 12, art. 1572313, 03 jun. 2025. Disponível em: https://doi.org/10.3389/fspas.2025.1572313. Acesso em: 15 ago. 2025.

[2] AHMAD, Nizam; KILOWASID, La Ode Muhammad Musafar; FAKHRURROJA, Hanif; NEFIA; RACHMAN, Abdul; HUSIN, Asnawi; FATHONI, Haries. How geomagnetic storms affect the loss of Starlink satellites in February 2022? Earth, Planets and Space, v. 77, art. 2, 2025. Disponível em: https://doi.org/10.1186/s40623-024-02124-2. Acesso em:15 ago. 2025.

[3] EUROPEAN SPACE AGENCY – ESA. Low Earth orbit. ESA Multimedia, 02 mar. 2020. Disponível em: https://www.esa.int/ESA_Multimedia/Images/2020/03/Low_Earth_orbit. Acesso em: 15 ago. 2025.